A iniciativa da criação de Poupança e Crédito Rotativo (PCR), liderada pela Solidariedade Moçambique e Actionaid tem vindo a contribuir significativamente na melhoria de vida da população deslocada interna de Cabo Delgado, que integra os grupos na província de Nampula, onde está acolhida.
Maria João, uma cidadã deslocada de Cabo Delgado é exemplo de outros jovens deslocados que procuram melhorar a sua vida fazendo poupança e crédito rotativo em Nampula. Mária abandonou a sua terra natal, distrito de Muidumbe, há dois anos, devido aos ataques terroristas que marcaram a infância e juventude desta, naquela província nortenha do país.
De apenas 24 anos de idade e mãe de dois filhos gémeos, a jovem cresceu em uma família sobrecarregada em problemas. Desde pequena perdeu seus pais e, logo de seguida, foi viver com avó materno, por sinal antigo combatente de luta de libertação nacional em Moçambique. Ela conta que viveu e cresceu em um ambiente de poucas oportunidades e baixa renda económica, tanto é que teve dificuldade para estudar.
Movida pela busca de sobrevivência, Maria João, junto a sua família, rumou para a vizinha república da Tanzânia, já em 2009, na esperança de ver a vida mudar para o melhor e de lá permaneceu durante três anos. Em Tanzânia, a família da Maria meteu-se em negócios, experiência que tempo depois importou para às suas origens, distrito de Muidumbe, em Cabo Delgado até meados de 2020.
“Com o pouco que o meu avô ganhava como pensionista não dava para arcar com as despesas de casa, por isso a preocupação era de garantir alimento para nós”, disse o porque de emigrar para a república da Tanzânia.
O MAL À ESPREITA
Em 2020, quando tudo parecia estar num bom rumo, o povoado onde residia Maria João e sua família, no distrito de Muidumbe foi atacado pelos terroristas, onde das vítimas mortais de forma hedionda, estava o esposo da jovem. Ali começou o mal que antes a jovem ouvia-se falar, pois o terrorismo tomou níveis assustadores em Cabo Delgado, em Outubro de 2017.
Sem meios alternativos de sobrevivência, a família de Maria deslocou-se para a província de Nampula, concretamente no posto administrativo de Namialo, distrito de Meconta, onde foi acolhida durante seis meses no centro instalado naquela região. Mas porque ainda é jovem, é do centro de acolhimento onde decidiu reiniciar a sua vida amorosa conhecendo o parceiro que depois passou a seu esposo.
“Não penso em voltar lá [Muidumbe], porque destruíram tudo que eu tinha”, rematou Maria João ao adiantar que conhecer o actual esposo foi o melhor que lhe aconteceu nos últimos tempos, enquanto vítima dos ataques terroristas.
Igual a igual, depois de integrar no grupo de Poupança e Crédito Rotativo (PCR), no ano de 2022, a vida começou a mudar. É no grupo que depois de poupar, decidiu junto do seu marido, pedir empréstimo de 5.000,00mt (cinco mil meticais) e iniciar o negócio de venda de produtos de género alimentício aos moradores da área onde reside, o que passou a ajudar também no sustento da família.
Com este negócio, resultado do crédito “em média diária conseguimos 1.500,00mt (mil e quinhentos meticais) a 2.000,00mt (dois mil meticais). Isso é muito importante para nossa família, não temos tido falta de alimentação. Por isso ainda agradeço por fazer parte do grupo de PCR, está a melhorar a vida de muitos de nós”, testemunhou.
Maria João é parte de 1.107 jovens membros de PCR, nos distritos de Nacala, Meconta e na cidade de Nampula, onde o objectivo é apoiar os jovens a melhorar a sua literacia financeira e aumentar a consciência sobre fontes de crédito disponíveis e acessíveis para o arranque e expansão de pequenos negócios, mas que depois podem se tornar em grandes.
O projecto de Poupança e Crédito Rotativo (PCR) é uma iniciativa que está sendo financiada pela Embaixada da Bélgica em Moçambique, e beneficia de forma directa aos cidadãos deslocados pelos ataques terroristas de Cabo Delgado, na sua maioria jovens, residentes actualmente na província de Nampula, concretamente, na cidade capital provincial, Meconta e Nacala.